domingo, 1 de agosto de 2010

No túnel do tempo...

Imagina que você precisa de algumas informações, com uma certa urgência, e um amigo seu, que mora em outro estado, promete te enviar. Mas, ele te avisa que vai demorar um pouco, pois ele vai datilografar as informações - tendo o cuidado de fazer uma cópia com papel carbono - e, em seguida, colocar no correio. Agora, imagina que vizinhos te convidaram para assistir a final da copa do mundo e, chegando lá, você percebe que estão todos diante de uma Telefunken em preto e branco. Você pede para fazer uma ligação para aquele amigo do outro estado e os vizinhos, atenciosamente, te mostram onde está o telefone e dizem para que fique à vontade. Qual seria a sua reação ao saber que você teria que discar os treze números e rezar para não dar ocupado, pois precisaria repetir esta operação diversas vezes?
Após o jogo, os amigos insistem que você fique, pois vai rolar uma festinha com uns discos bem legais do Bill Haley, que eles acabaram de comprar.
Este cenário, pouco provável nos dias de hoje, seria perfeitamente normal há algumas décadas atrás. Entretanto, salvo se formos daqueles saudosistas românticos ou colecionadores de peças antigas, dificilmente nos sentiríamos confortáveis utilizando tais tecnologias já consideradas obsoletas.
Vamos, então, dar sequência ao nosso exercício de imaginação e tentar pensar em como os nossos alunos se sentem ao serem submetidos a tecnologias e procedimentos que foram inventados há séculos!!!
Talvez, mais que desconfortáveis, eles se sintam mesmo indignados, revoltados, inconformados, desanimados, desolados, etc., etc., etc... Obviamente, a expressão desses sentimentos vem na forma daquele comportamento que mais preocupa e incomoda o profesor: a indisciplina.
Creio que a fala do professor Ulisses Araujo, na entrevista postada abaixo, é bastante feliz, quando ele aponta o anacronismo da nossa escola. Esta escola que parece se comportar como um túnel do tempo, em que se remete o aluno a um contexto no qual todos os seus comportamenos serão inadequados, pois são comportamentos de uma outra era, um outro tempo/espaço. Esta escola que, não raro, sonha com os alunos do passado, os quais, supostamente, ouviam silenciosa e atentamente as longas exposições orais dos seus professores e copiavam com precisão e esmero as lições e exercícios escritos no quadro de giz, e acorda assustada quando se vê desafiada pela resistência discente em aceitar os seus métodos.
Parece mesmo que a escola é a única que não percebe que tudo mudou à sua volta. Objetos, comportamentos, valores, objetivos, enfim, praticamente nada que esteja para além das nossas necessidades biologicas é realizado como era há vinte ou trinta anos passados. Mas, infelizmente, nossas salas de aula ainda são as fiéis representantes de como se educava no sécuo XIX.


Para ler:

 

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Pois é ... suas colocações são muito pertinentes.. Eu vivo a me perguntar...Até quando, a educação vai desconsiderar a sociedade da informação a qual fazemos parte?? Até quando as tecnologias( que tanto atraem os alunos) vão ser banidas das escolas, ou ainda, não utilizadas a favor da educação? Até quando a escola, instituição social de educação formal por excelência, vai se eximir de seu papel de proporcionar uma educação para as tecnologias?

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